Quem nunca ouviu a história de que fulano emagreceu ou perdeu a barriga depois de cortar o glúten da dieta? Nas redes sociais, fazem sucesso cardápios, produtos e receitas glúten-free, apresentados como sinônimos de saúde. Mas, descontando o caso dos celíacos (que têm alergia ao glúten e representam cerca de 1% da população mundial), vale mesmo a pena tirar o pãozinho francês do cardápio? Só para esclarecer: o glúten é a proteína presente nos grãos de trigo, cevada e centeio.
O assunto é polêmico mesmo entre os nutricionistas. Por isso a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban) divulgou, no final de maio, um posicionamento oficial sobre o assunto. Uma equipe de especialistas, liderada pela nutricionista e presidente da entidade Olga Amancio, fez uma análise crítica da literatura médica em relação à indicação de dietas sem glúten e formulou algumas conclusões. Seguem, abaixo, os cinco principais pontos da declaração oficial da entidade.
1 – Não há evidências suficientes para assumir que pessoas saudáveis se beneficiem de uma dieta sem glúten.
2 – Estudos recentes sugerem que a sensibilidade ao glúten (que atinge cerca de 6% da população) pode ser confundida com a sensibilidade à baixa fermentação e má absorção de alguns carboidratos conhecidos como Fodmaps, sigla, em inglês, para oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis. Esses carboidratos de difícil digestão estão presentes no trigo, na cevada, no centeio e também em frutas e legumes como brócolis, maçã, beterraba e abacate. Como eles não são absorvidos com facilidade no intestino delgado, podem formar gases que causam estufamento e flatulência.
3 – Dados epidemiológicos sustentam que pessoas com doença celíaca e excesso de peso não apresentam perda de peso sob uma dieta sem glúten.
4 – Dados experimentais recentes mostraram possíveis efeitos nocivos da dieta sem glúten ao intestino de pessoas saudáveis. Isso foi atribuído principalmente ao aumento do consumo de produtos glúten-free ultraprocessados e nutricionalmente pobres, ou seja, à diminuição do consumo de cereais integrais e fibras importantes para a saúde do intestino. “Os cereais integrais têm efeito prebiótico: alimentam as bactérias do bem do intestino, contribuindo para a redução no risco de câncer de intestino, doenças inflamatórias e doenças cardiovasculares devido à presença de fibras”, afirma a nutricionista Cynthia Antonaccio. “Daí a importância de fazerem parte da dieta de quem não é celíaco nem tem sensibilidade ao glúten”, completa a especialista.
5 – Dietas sem glúten podem ser saudáveis para a população em geral, desde que a retirada dos alimentos com glúten seja compensada pela ingestão de outros grãos integrais e de hortaliças.
Você pode conferir o documento da Sban na íntegra em http://www.sban.org.br/publicacoes/posicionamentos/132/dieta-livre-de-gluten-bom-para-todos
Minha irmã é celíaca, eu não sou, logo, nunca me preocupei em tirar o glúten do cardápio. Não como pão nem macarrão todo dia e, quando como, dou preferência aos integrais. Mas, se dá vontade, como meu pão francês ou minha fatia de bolo de cenoura sem culpa. Acho que o segredo é não exagerar…