Tendência no mundo fitness é oferecer “experiências” de bem-estar

Por Angélica Banhara
Aula no Studio Velocity: sentir a música e viajar...
Aula no Studio Velocity com Gabriela Pugliesi, blogger e sócia: sentir a música e viajar… (Foto: Christian Parente/Divulgação)
Aula de Ballet Fitness na academia boutique Les Cinq Gym
Aula de Ballet Fitness na academia boutique Les Cinq Gym: surpreender com novidades e serviços especiais (Foto Divulgação)

    Menos holofote para a barriga “trincada” e mais foco no prazer que uma atividade física pode proporcionar. O wellness, ou bem-estar, está ganhando cada vez mais espaço no pódio com o fitness. Embora nos eventos e congressos nacionais e internacionais os cursos de HIIT (High Intensity Interval Training, ou treino intervalado de alta intensidade) e Crossfit (programa de treinamento de força e condicionamento físico baseado em movimentos funcionais, feitos em alta intensidade) lotem as salas de aula, uma outra abordagem da atividade física está deixando de ser tendência: virou realidade. Isso ficou claro na 17a IHRSA Fitness Brasil, o maior encontro de gestores do fitness da América Latina, com a mesa-redonda Boutique do Bem-Estar, que reuniu exemplos de serviços premium que têm em comum oferecer uma experiência ao aluno que vai muito além de um workout ou um cardápio. Participaram da discussão o doutor em nutrição Antonio Herbert Lancha Jr, criador do Método Lancha de emagrecimento personalizado, o professor de educação física e proprietário da academia Les Cinq Gym, Rodrigo Sangion, e o sócio e diretor do Studio Velocity, Shane Young.

“Viagem” na bike

   O Studio Velocity é pioneiro no Brasil no ciclismo indoor em estúdios e no sistema “pay per use”: não tem matrícula nem mensalidade, o aluno paga por aula e reserva a bike pelo site. Aberto há cerca de 2 anos, tem quatro unidades em São Paulo e vai inaugurar a quinta em Campinas (a 100 quilômetros de São Paulo) no mês que vem. A proposta da Velocity é unir tecnologia (com bikes de última geração), professores experientes e um ambiente que inspire saúde e diversão  para que, além de trabalhar o corpo todo na bike, os alunos aliviem o stress, melhorem o astral e se sintam parte de uma comunidade.

   “A maioria das pessoas não gosta de treinar. Ponto”, diz Young. “A palavra ‘treino’  é naturalmente associada a atleta, a malhação pesada. queremos mostrar que é possível ser saudável e feliz fazendo uma atividade que dá resultado: seja ele emagrecer, seja desestressar. E sem representar um peso, uma obrigação. Você só vai ver resultado se mentalmente estiver bem. O ser humano não funciona como máquina: ele só faz com regularidade o que gosta. E o que queremos é que as pessoas sintam isso na sala de aula”, completa.

   A bike é usada para movimentar o corpo todo: além de treinar o lado cardiorrespiratório, a aula trabalha a estabilização, o core (musculatura do abdômen e das costas) e os braços, com carga. “A proposta é sentir a música, estar presente de corpo e alma na aula. A sensação boa é o combustível para ir mais longe”,  explica Ana Paula Simões, formada em educação física e professora do método Velocity. “O aluno vai ajustar a carga porque está gostoso. Queremos que ele se sinta bem durante a aula, não apenas depois que acabou”, diz.

A luz é reduzida para os alunos entrarem no clima, sem reparar em quem está ao lado (Christian Parente/Divulgação)
A luz é reduzida para os alunos entrarem no clima, sem reparar em quem está ao lado (Foto Christian Parente/Divulgação)

   Shane é neozelandês, mora no Brasil há cerca de cinco anos e trabalhava no mercado financeiro antes de abrir a Velocity. A ideia surgiu depois de experimentar aulas em estúdios com esse novo conceito nos Estados Unidos. “Vi exemplos que eram muito diferentes do que acontecia aqui: a atividade física como lifestyle (estilo de vida), não apenas como workout (treino). Pessoas se exercitando juntas em aulas que eram motivadoras, inspiradoras, que criavam um sentimento de comunidade”, conta Young. “No Brasil, naquele momento, não existia nenhum método que enfatizasse essa parte mais mental: era tudo muito focado na técnica. Quando começamos, nossa proposta foi um choque para muita gente. Hoje em dia estão abrindo outros espaços com propostas que vão por este caminho: menos fitness e mais wellness”, conclui.

Atendimento mais que personalizado

   Oferecer mais do que um lugar de luxo para malhar foi o desafio do personal trainer Rodrigo Sangion quando abriu a academia boutique Les Cinq Gym num ponto nobre do bairro Jardins, em São Paulo, há cerca de 2 anos. “Depois de 18 anos dando aulas, sabia o que eu não queria numa academia. E isso ajudou muito”, conta Sangion. “Me coloco no lugar do cliente. Já estive fora do peso, briguei muito com a balança. Sei o que é se sentir desconfortável por estar fora de forma. Então, antes de mais nada, quero que o aluno se sinta acolhido na Les Cinq”, conta o personal, que virou o jogo contra a balança e chegou a ser capa da revista Men’s Health.

Arquitetura sofisticada, equipamentos de alta tecnologia... mas o atendimento personalizado faz a diferença (Foto Divulgação)
Arquitetura sofisticada, equipamentos de alta tecnologia… e foco em fazer o aluno se sentir único (Foto Divulgação)

   Sim, o luxo está presente em cada detalhe: o projeto arquitetônico é de Kiko Sobrino, peças de design, obras de arte, cascata no banheiro, toalhas de 400 fios, xampu, condicionador e sabonete liquido à disposição (e make, para as mulheres), frutas, água e castanhas nas salas de exercício. Mas a real aposta de Sangion para fidelizar esse cliente é o atendimento.

   Além de ele treinar todos os dias na academia e estar sempre à disposição para conversar com os alunos (tem uma sala bacanérrima só para receber os clientes), a Les Cinq oferece um professor para cada quatro alunos na musculação e acaba de lançar o fitness host: um serviço para recepcionar os novatos e mais tímidos. O host (anfitrião, em inglês), é um estudante de educação física que domina todo o funcionamento da academia e recebe cada aluno com simpatia logo na entrada. Munido de um tablet, ele acessa a ficha do cliente, pergunta como ele está se sentindo no dia, quanto tempo tem disponível, que atividade gostaria de fazer. “É comum os novatos se sentirem pouco à vontade, meio perdidos no começo. Queremos que o aluno se sinta acolhido, confortável”, conta Sangion. Outras vezes, o aluno tem curiosidade de experimentar uma aula diferente, mas sente vergonha de entrar na sala. Nesse caso, o host explica como é cada aula, entra com o aluno na sala, apresenta ao professor.

   “Lógico que a academia tem que oferecer resultado. Mas socializar também é importante: o cliente tem que se sentir bem aqui para querem voltar amanhã e a minha ideia é sempre surpreende-lo com novas experiências”, conclui Sangion.

De paciente a cliente

  O foco no cliente é o grande diferencial desses serviços. O nutricionista Lancha Jr, referência na área, faz questão de dizer que atende “clientes”, não “pacientes”. Por que? “Paciente dá uma ideia de que a pessoa é passiva no processo. Para ter sucesso no emagrecimento, a nutrição e a atividade física são importantes, mas a mudança de comportamento é fundamental”, explica o especialista. Depois de 20 anos de prática clínica ancorada em conceitos científicos, Lancha Jr desenvolveu um método de emagrecimento personalizado. “No Método Lancha uni a ciência com a gestão de fatores comportamentais. Só passar orientação nutricional, prescrever cardápio, não funciona” diz. O especialista afirma que, na maioria das vezes, as pessoas sabem o que têm que fazer para perder o excesso de peso. “O que elas precisam, na verdade, é criar dinâmicas para colocar isso em prática. E nós desenvolvemos estratégias para ajuda-las a mudar o padrão de comportamento.”

   Como conseguir isso? “Empoderando essas pessoas. Ajudando-as a organizar o dia para que consigam se alimentar de forma correta, sem proibir alimentos”, explica. É mais simples do que parece: “Coma de tudo, um pouco a menos. Assim, você consegue reduzir a gordura corporal. O que é importante: não tem nenhum alimento totalmente proibido, mas nada é totalmente liberado”, conclui. No final das contas, o que vale é o bom senso, o equilíbrio. Para funcionar, a pessoa tem que querer mudar e se engajar para a mudança, ser ativa no processo.

   Chama a atenção, nos casos citados acima, o fato desse o cliente não ser passivo no processo: ele é o protagonista da experiência e da mudança. O resultado é positivo para os dois lados: alunos/clientes satisfeitos e negócios bem sucedidos.   

Mesa-redonda sobre serviços premium de bem-estar, com Lancha Jr,  Sane Young, Rodrigo Sangion e eu na 17a IHRSA Fitness Brasil (Foto Divulgação)
Mesa-redonda sobre serviços premium de bem-estar, com Lancha Jr, Sane Young, Rodrigo Sangion e eu, na 17a IHRSA Fitness Brasil (Foto Divulgação)

Segmento em expansão

   Segundo dados do IHRSA Global Report 2016 (relatório da entidade internacional do fitness), o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial em número de academias e de alunos, atrás apenas dos Estados Unidos. São 34.509 academias e 9,6 milhões de alunos, o que representa cerca de 4% população brasileira e uma média de 280 alunos por academia. O faturamento do setor gira em torno de US$ 2,1 bilhões no Brasil.

Encontro reúne líderes

   A 17a IHRSA Fitness Brasil é o maior encontro de gestores do fitness, investidores e proprietários de academias da América Latina. Entre os dias 1 a 3 de setembro, cerca de 2000 profissionais participaram de mesas redondas, keynotes, palestras, painéis de cases de sucesso e workshops no Transamerica Expo Center, em São Paulo. Foram cerca de 85 horas de conteúdo com mais de 70 palestrantes palestrantes e especialistas.

   O evento também sediou a maior feira do segmento fitness: foram 16.000 metros quadrados com mais de 120 expositores de artigos e acessórios esportivos,  equipamentos, moda fitness, franquias, metodologia de treino para academias, soluções tecnológicas, programas de avaliação corporal e novas aulas de ginástica e dança. Os números finais do evento ainda não foram divulgados, mas a expectativa era receber 15 mil visitantes e atingir a marca dos R$ 120 milhões em volumes de negócios durante os três dias.