Benefícios do óleo de coco não são confirmados, afirmam associações médicas

Por Angélica Banhara
Óleo de coco: faltam estudos consistentes que confirmem os benefícios de consumo

Não existe pílula mágica para emagrecer ou ficar saudável. Parece óbvio? Não é. Tanto que volta e meia surge uma novidade, um produto ou um alimento que parece ser a salvação para acabar com a barriga ou garantir uma vida mais longa. Com o óleo de coco não foi diferente.

O produto obtido a partir da polpa do coco fresco maduro, apesar de ser fonte de ácido graxo saturado (gordura saturada), começou a ser apontado como a opção mais saudável para usar na cozinha, indicado para ser consumido em shakes e até puro, às colheradas, visando desde perda de peso e redução da circunferência abdominal até prevenção de doenças degenerativas. Num momento em que muitas pessoas se informam pelas redes sociais e reproduzem informações sem checar se são verdadeiras ou confiáveis, instituições como a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e o Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) divulgaram posicionamentos para esclarecer o que está comprovado cientificamente sobre o óleo de coco.

O posicionamento mais recente foi o da Abran, na semana passada. Vamos às evidências apresentadas:

  • Na comparação com óleos vegetais menos ricos em ácidos graxos saturados, recente revisão mostrou que o óleo de coco aumenta o colesterol total (particularmente o LDL-colesterol) o que contribui para um maior risco cardiovascular.
  • Sobre o possível efeito antibacteriano, antifúngico, antiviral e de aumento de imunidade: tratam-se de estudos são experimentais, sem estudos clínicos demonstrando esse efeito. Assim, faltam ainda evidências suficientes para recomendar o óleo de coco como agente antimicrobiano ou imunomodulador.
  • Até o momento, não existem estudos clínicos sobre o efeito de óleo de coco na função cerebral. E não há evidências clínicas de que o óleo de coco possa proteger ou atenuar doenças neuro-degenerativas, como a doença de Alzheimer.

E sobre o emagrecimento??? Segundo a Abran, apenas um número muito pequeno de estudos, com resultados controversos, tem relatado os efeitos do óleo de coco sobre o peso corporal em seres humanos. No que se refere à saciedade, pequeno estudo mostrou que não existe efeito de uma refeição rica em ácidos graxos de óleo de coco sobre o apetite ou ingestão alimentar.

  • No geral, não existem evidências suficientes para concluir que o consumo de óleo de coco leva à redução de gordura.

Considerando a associação entre consumo de ácidos graxos saturados e o risco de doenças cardiovasculares e a ausência de grandes estudos bem controlados relativos ao óleo de coco em humanos, a Abran recomenda que o produto:

  • não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento da obesidade;
  • não deve ser prescrito na prevenção ou no tratamento de doenças neuro-degenerativas;
  • não deve ser prescrito como nutriente antimicrobiano e
  • não deve ser prescrito como imunomodulador.

Cintura fina?
Sobre o o uso do óleo de coco para perda de peso, veja o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

“A Sbem e a Abeso posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde.

A Sbem e a Abeso também não recomendam o uso regular de óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias. O uso de óleos vegetais com maior teor de gorduras insaturadas (como soja, oliva, canola e linhaça) com moderação, é preferível para redução de risco cardiovascular.”

Controle do colesterol
O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) também se posicionou sobre o assunto ainda no final de 2015, quando a onda de consumo de começou.

“Considerando a influência dos ácidos graxos ingeridos sobre os fatores de risco das doenças cardiovasculares e sobre as concentrações plasmáticas de lípides e lipoproteínas, e o preço para a aquisição desse tipo de produto, o óleo de coco, quando utilizado, deve seguir os princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer. A recomendação é de que seja usado em pequenas quantidades e em preparações culinárias, preferencialmente compostas por alimentos in natura ou minimamente processados, não sendo recomendado para tratamento da hipercolesterolemia.”

Bom senso
Diante de cada novo modismo alimentar aproveito para conversar sobre o assunto com várias nutricionistas. Quem não se lembra da onda da quinoa, da linhaça, da chia, da goji berry…

E, embora nem sempre haja consenso, com uma coisa os especialistas concordam: não existe um único alimento que seja garantia de vida longa ou de barriga lisinha. Estar dentro do peso e com a saúde em dia depende de um conjunto de hábitos, esses sim, conhecidos de todos:

  • Ter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e alimentos frescos
  • Praticar atividade física com regularidade
  • Não fumar
  • Controlar do stress
  • Ter um sono de boa qualidade

Nada disso é importado, raro, caro: só depende da gente. Então, o que você vai fazer hoje pela sua saúde?

A seguir, os links dos posicionamentos.

Abran http://abran.org.br/para-publico/posicionamento-oficial-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-respeito-da-prescricao-de-oleo-de-coco/

Sbem e Abeso https://www.endocrino.org.br/media/uploads/posicionamento_oficial_%C3%B3leo_de_coco_sbem_e_abeso.pdf

CFN http://www.cfn.org.br/index.php/saiba-mais-sobre-oleos-de-coco-e-de-canola/